quarta-feira, 2 de novembro de 2016

1912 + 1 (1986) 
Leonardo Sciascia (1912-1989) - Itália        
Tradução: Tizziana Giorgini     
Rio de Janeiro: Rocco, 1987, 84 páginas


Livro de difícil definição - reportagem?, ensaio?, ficção histórica? -, mesmo para o autor (v. pág. 75), chamemo-lo de conto longo ou romance curto. 1912 + 1 era como os supersticiosos referiam-se a 1913, para evitar mencionar o número 13... Ano terrível, que prepara a Humanidade para a chamada Grande Guerra, a mais mortífera de todos os tempos, que durou de 1914-1918. Mas não é sobre a guerra essa narrativa, mas sobre um crime real ocorrido em San Remo, que abalou a Itália naquele longínquo 1913. A condessa Maria Tiepolo - pertencente a uma família veneziana "(...) que produzira um doge e uma rainha (...)" (p. 54) - assassinou com um tiro no rosto Quintilio Polimanti, ordenança (espécie de ajudante militar) de seu marido, o capitão do Exército, Ferruccio Oggioni. O que teria motivado Maria, "(...) bela mulher de trinta e cinco anos, casada há doze (...)", mãe de um menino de nove anos e de uma menina de oito, a matar o belo e forte Quintilio, "(...) jovem de vinte e dois anos"? (p. 59). O Autor recupera os autos do rumoroso processo e tenta compreender, à luz do fim dos anos 1980, as reações apaixonadas das várias camadas da sociedade do começo do século XX, além de expor as falhas de um sistema jurídico caduco. Irônico, sofisticado e culto, o narrador se permite até mesmo dar o seu palpite sobre as causas do delito.





Avaliação: MUITO BOM  

(Novembro, 2016)


Entre aspas


"O problema do viver e do morrer dos homens é que Deus existe, mas saber-se-á dele, quando mortos, menos do que se sabia quando vivos (...)" (p.70)

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