sábado, 12 de setembro de 2015

A vida e as opiniões do 
cavalheiro Tristram Shandy (1760-67) 
Laurence Sterne (1713-1768) - Irlanda
Tradução: José Paulo Paes
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, 681 páginas


Romance inacreditavelmente moderno, "Tristram Shandy" surpreende pela forma, pela linguagem, pelo humor. Não é um livro fácil, pois não há propriamente o desenvolvimento de um enredo, mas uma série de episódios que se alargam e se espraiam formando um delta de ideias críticas a respeito do patético que somos todos os seres humanos. Embora narrado em primeira pessoa pelo personagem que dá título ao livro, não é sobre Tristram Shandy que lemos - quase nada há a respeito de sua vida ou suas opiniões -, mas são as longas e hilárias discussões entre seu pai, Walter, e seu tio, Toby, que ocupam o centro do livro. Repositório de experimentalismos, "Tristram Shandy" alimentaria todos os movimentos de vanguarda posteriores - sua influência sobre Machado de Assis (1839-1908) é impressionante. Entre inúmeras cenas destacáveis, escolhi duas: a paródia filosófica sobre o mote "a mãe não é parente do filho" (capítulos 28 a 30 do volume IV) e a fantástica cidadela que tio Toby e o Cabo Trim erguem e destroem para representar os movimentos das batalhas que vão se desenrolando durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), que acompanham pelos jornais. Ao invés de instaurar a luz, Sterne instala o caos.


Avaliação: OBRA-PRIMA


Entre aspas

"Estaremos sempre a produzir novos livros, como os boticários produzem novas misturas, com apenas passar de um recipiente a outro?" (p. 347)

(Julho-Agosto de 2015)



   

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