domingo, 1 de novembro de 2020

 A Neve do Almirante (1986)

Álvaro Mutis (1923-2013) - COLÔMBIA 

Tradução: Josely Vianna Baptista   

São Paulo: Companhias das Letras, 1990, 132 páginas




Romance breve, composto por seis textos, independentes, mas complementares, sendo que, o primeiro e mais longo, intitulado "O Diário do Gaveiro", narra as aventuras do marinheiro Maqroll subindo o curso do rio Xurandó em busca de umas serrarias, localizadas num ponto indeterminado no meio da selva amazônica, aos pés da Cordilheira dos Andes ("selva amazônica" e "Cordilheira dos Andes", aqui, são inferências do leitor, porque em momento algum há qualquer indicação concreta do espaço geográfico, apenas sugestões vagas). Esse diário, escrito "(...) em folhas da mais variada qualidade e origem, um diário onde registro tudo, dos meus sonhos aos percalços da viagem, do caráter e cara dos que viajam comigo até a paisagem que desfila diante de nós enquanto subimos" (p. 93), teria sido encontrado pelo narrador num sebo no Bairro Gótico de Barcelona, dentro do livro Enquête du Prêvôt de Paris sur l'assssinat de Louis Duc D'Orléans, publicado em 1865. O objetivo de Maqroll é comprar um lote de madeiras, que faria descer rio abaixo, mas desde o princípio da viagem, numa "barcaça de quilha plana movida por um motor diesel que luta com uma asmática teimosia contra a corrente" (p. 15), a existência das serrarias é posta em dúvida. Durante a trajetória, que deveria ser um percurso simbólico e metafísico, os ocupantes do barco vão acolhendo novos passageiros, que preenchem, com suas histórias, o tédio dos dias. Inicialmente, além de Maqroll, do capitão sempre bêbado, de um mecânico e de um prático, segue um estoniano chamado Ivar. Os primeiros passageiros recolhidos são uma família de índios, com quem Maqroll se relaciona sexualmente com a mulher, e Ivar com o homem. Da mesma maneira que eles sobem à embarcação, descem mais à frente, calados e misteriosos. Depois, o barco é interceptado por um hidro-avião militar, cujo major leva presos Ivar e o prático, que depois, ficamos sabendo, são despejados do alto no meio da selva, para não ter que ser julgados, já que o oficial temia que pudessem subornar os seus soldados, os juízes, etc. Eles param numa base militar, conseguem um novo prático, mas Maqroll adoece, segundo o mecânico de algo chamado "febre do poço", por ter se relacionado com a índia, e quase morre. Após se restabelecer, eles prosseguem e, vencida uma corredeira, Paso de los Angeles, última etapa para o destino final, o Capitão se mata, enforcado. Enfim, eles encontram as serrarias - e aqui decorre minha decepção como leitor. A narrativa, que até aqui mantém-se no plano simbólico, cai para o mais chão dos realismos, as serrarias mostram-se inacessíveis por serem joguetes nas mãos de políticos corruptos... Uma solução bastante frustrante... O major volta, resgata Maqroll, e ele vai tentar reencontrar Flor Estévez,  sua amante, financiadora e proprietária do bar ou algo assim que se chama A Neve do Almirante - descobrimos num dos outros relatos (de título homônimo ao livro) que o lugar nem a sua dona existem mais



ENTRE ASPAS:

"(...) o sentido que se embota primeiro, à medida que a vida vai nos levando, é o da piedade". (pág. 42)

"É muito ruim quando se vive parte da vida fazendo o papel errado, e pior ainda é descobrir isso quando já não se tem forças para remediar o passado nem recuperar o perdido". (pág. 77)



AVALIAÇÃO: BOM

(Novembro, 2020)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.