quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

O mestre e Margarida (1967) 
Mikhail Bulgákov (1891-1940) RÚSSIA     
Tradução: Zoia Prestes        
Rio de Janeiro: Alfaguara, 2010,  453 páginas





Trata-se de uma narrativa publicada postumamente, devido à sempre estúpida e absurda censura, no caso, do governo soviético. Como sempre afirmo, não gosto de sátiras. Os narradores de sátiras - e portanto, os Autores - são seres que se colocam acima de seus semelhantes, e ao invés de olhá-los com a empatia de quem sabe que somos todos, sem exceção, patéticos, pensa que é superior a eles. Por isso, também neste caso, embora condene veementemente a censura - que, repito, é sempre estúpida e absurda -, não consigo gostar desse romance. Aliás, desconfio mesmo que boa parte de sua fama deva-se a isso... O Autor usa de estratégias do realismo fantástico para criar situações hilárias - que não me fizeram rir - e de críticas à intelligentzia soviética, um bando de artistas medíocres, interesseiros e deletérios, mas que, a rigor, existem em qualquer lugar e em qualquer tempo... Tivesse, talvez, alargado suas observações ao conjunto da sociedade, quem sabe resultasse em um romance mais interessante. O diabo, encarnado na figura do mago Woland, desembarca em Moscou, junto com seus assistentes, Korôiev (ou Fagot),  Azazzelo e o gato Behemoth, e começa a promover uma série de situações que expõe o ridículo da casta de escritores soviéticos: seus empregos burocráticos, suas obras inexpressivas, seus apartamentos conseguidos por submissão aos interesses do Partido, etc... No final, o diabo, condoído com o destino malogrado do tal "mestre", um romancista censurado por escrever um livro sobre os tempos de Cristo, aceita o pedido de sua amante, a tal Margarida Nikoláievna, a Margarida do título, e dá a eles um final de certa forma glorioso. É interessante perceber a alta conta que o Autor tinha de si mesmo, que transparece, claro, de maneira alegórica. Perguntado pelo diabo porque Margarida o chama de "mestre", o escritor responde, modestamente: "Ela tem um conceito muito elevado sobre o romance que escrevi" (p. 325). Algumas páginas adiante, o diabo "profetiza": "(...) o seu romance ainda lhe trará surpresas" (p. 332)...





Curiosidade:


No entanto, tenho que admitir, o Autor conseguiu uma proeza sem igual. O livro, escrito entre 1929 e 1940, antecipa, de maneira impressionante, os recursos dos mapas virtuais, no caso on line, que só conheceríamos, em parte, na segunda década do século XXI... Senão, vejamos: "O meu globo é bem melhor [o diabo falou], ainda mais porque tenho que saber dos acontecimentos com precisão. Por exemplo, está vendo esse pedaço de terra banhado pelo oceano? Veja como se enche de fogo. Lá começou uma guerra. Aproxime-se e verá com detalhes. // Margarida inclinou-se até o globo e viu que o quadradinho de terra ampliou-se, coloriu-se e se transformou num mapa em alto-relevo. Depois, ela viu o fiozinho do rio, e um povoado ao lado. A casinha, que tinha o tamanho de uma ervilha, cresceu e tomou proporções de uma caixa de fósforos. De repente e silenciosamente, o telhado da casa subiu junto com uma nuvem de fumaça negra, e as paredes caíram de tal forma que não sobrou nada da caixinha, além de um amontoado de entulho, de onde saía uma fumaça negra. Aproximando o olhar mais ainda, Margarida percebeu uma pequena figura de mulher deitada sobre o chão e, a seu lado, numa poça de sangue, uma criança pequena, com os braços estendidos".  (pág. 295)


Avaliação: NÃO GOSTEI

(Fevereiro, 2020)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.