terça-feira, 22 de outubro de 2019

A justiça de Yerney (1907) 
Ivan Cankar (1876-1918) - ESLOVÊNIA 
Tradução: Conceição Cordeiro Bagagem 
Amadora: Cavalo de Ferro, 2019, 94 páginas





Durante 40 anos, Bartholomew Yerney trabalhou numa fazenda em Betajnova, interior da Eslovênia, na época parte do Império Austro-Húngaro. Com a morte do velho Sitar, Yervey acredita que assumirá a direção do lugar, pois, segundo seu raciocínio, se foi ele a trabalhar a terra, "que produziu frutos maravilhosos", então seria ele o novo dono da fazenda. Evidentemente, o filho de Sitar, Tony, não concorda e expulsa o empregado. Então, Yerney começa uma longa peregrinação em busca do que acredita serem seus direitos. Primeiro, vai ao presidente da Câmara de Betajnova, depois, sucessivamente, a Dolina, capital da província; Ljubliana, capital do país, e então a Viena, capital imperial. Em todos os lugares é recebido com sarcasmo e em Viena é preso e deportado para sua cidade natal, Resje, de onde havia saído ainda criança. Inconformado com a falta de justiça, ele volta a Betajnova, põe fogo na casa da fazenda e acaba linchado pelos outros empregados. Uma bela fábula sobre injustiça social, particularmente na figura do camponês, que, explorado a vida inteira, não tem, no final, nem mesmo terá direito a um lugar digno para morrer. Ou, como explica um sábio a Yerney: "A lei humana diz: 'O Yerney construirá, e quando a construção estiver terminada, o patrão deverá sentar-se à lareira e mostrará a Yerney a porta de saída. O Yerney lavrará e semeará e ceifará, e a colheita será do patrão, enquanto para Yerney ficarão as pedras. O Yerney cortará e desbastará, amontoará o feno e a palha, e quando o palheiro, o celeiro e os estábulos estiverem cheios, o patrão descansará numa cama macia, e o Yerney, no caminho duro. Ambos envelhecerão. Então, o patrão sentar-se-á no canto da lareira, a fumar o cachimbo e a dormitar, e o Yerney esconder-se-á atrás do palheiro e morrerá num monte de feno ou numa estrumeira miserável'" (p. 24). Yerney compreenderá então que "a justiça existe só para aqueles que a fizeram" (p. 47).





Curiosidade:

A literatura finissecular é pródiga em resolver os conflitos com uma grande hecatombe. E, particularmente, adoram terminar os livros com incêndios... É o caso deste "A justiça de Yerney" e é o caso também de pelo menos dois romances brasileiros da época: "O Ateneu", de 1888, de Raul Pompéia (1863-1895), e "O cortiço",  de 1890, de Aluízio Azevedo (1857-1913). 


Avaliação: BOM

(Outubro, 2019)

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