sábado, 23 de fevereiro de 2019

Contos novos  (1947)
Mário de Andrade (1893-1945BRASIL 
Belo Horizonte: Villa Rica, 1993, 113 páginas




Publicado postumamente, este livro reúne nove contos, os melhores da produção do Autor. Ainda assim, trata-se de uma coletânea bastante irregular, o que, aliás, é uma marca de sua extensa obra, bastante superestimada pela crítica. Aqui, convivem uma obra-prima da narrativa breve brasileira, "O peru de Natal" - que possui um primoroso primeiro parágrafo* -, e um texto fraquíssimo, que nem chega a se constituir como conto, "O ladrão". Os relatos que cuidam da questão social - "Primeiro de maio" e "O poço" -, se destacam, assim como "Frederico Paciência", uma instigante história de homossexualidade juvenil**. Prejudicado por maneirismos da linguagem modernista, é literatura que envelhece muito rapidamente.



* Ei-lo: "O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas facilidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro sangue dos desmancha-prazeres". (pág. 75)


** Em 2007, quando organizava a antologia Entre nós - contos sobre a questão da homossexualidade, lançada pela Língua Geral, incluí esse texto na lista original, mas os detentores dos direitos autorais, à época, proibiram a sua utilização. 



Avaliação: BOM


(Fevereiro, 2019)

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