terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

200 crônicas escolhidas  
Rubem Braga (1913-1990BRASIL 
Rio de Janeiro: Record, 2005, 488 páginas





Rubem Braga é um Autor inclassificável. Criou um gênero singular - que não é crônica, que não é conto, que não é poema em prosa -, que ninguém conseguiu dar continuidade. É um texto único, profundo, lírico, atemporal, que nos arrebata e comove, sem nunca ser piegas. O Autor assim definiu, de maneira modesta, o seu ofício: "Há homens que são escritores e fazem livros que são verdadeiras casas, e ficam. Mas o cronista de jornal é como o cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai" (p. 236). Talvez pudéssemos concordar que essa definição se adequa à maioria dos cronistas - mas não a ele. Sua obra - que o Autor considerava "vã e cansativa" (p. 391) - permanecerá, porque extrapola o fato cotidiano no qual se debruça, alçando voos metafísicos que a literatura só raramente atinge (e isso, com simplicidade, com modéstia até). E é curioso que, pouco a pouco, e pode-se notar bem neste livro, o Autor vai compreendendo melhor o seu ofício - e, ao contrário do que normalmente ocorre, quanto mais o tempo passava, melhores ficavam seus textos. Não vou aqui elencar os destaques entre as crônicas, pois seriam muitos e formariam apenas uma sucessão de títulos, mas, só para termos uma ideia, se do primeiro título, O conde e o passarinho, de 1936, não salientaríamos nenhum texto em especial, do último, A traição das elegantes, um em cada quatro é de obrigatória inserção em qualquer antologia das obras-primas da literatura brasileira. 




Entre aspas: 

"(...) matamos, por distração, muitas ternuras". (pág. 201)

"Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas modernos que procuram esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem a muito equívoco e muita bobagem. Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem mais profundas..." (pág. 392)




Avaliação: MUITO BOM

(Fevereiro, 2019)

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