quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Nazarín (1895) 
Benito Pérez Galdós (1843-1920) - Espanha     
Tradução: Reynaldo Guarany  
Rio de Janeiro : José Olympio, 1990, 185 páginas



O protagonista, o ingênuo e idealista padre Nazario Zaharín ou Zajarín, é um personagem quixotesco, filiação que o autor não esconde, de forma explícita ao fazê-lo originário de Miguelturra, aldeia da região de La Mancha, e de maneira mais sutil ao mencionar à página 169 que a mãe do malfeitor, dito o Sacrílego, estava presa em Alcalá, cidade onde nasceu Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616)*. Nazarín é um sacerdote fracassado, que não conseguindo se encaixar dentro da estrutura da Igreja Católica, resolve pregar os ensinamentos cristãos usando suas próprias atitudes como exemplo. Ele deixa Madri e sai a pé, com a roupa do corpo e descalço, em busca de "misérias  e penas" (p. 116), ambicionando "ultrajes e o martírio" (p. 109), no que é seguido por duas discípulas, a ex-prostituta Ándara, e sua amiga, Beatriz. No caminho, Nazarín salva uma criança que havia sido desenganada, ganhando a fama de milagreiro; é recebido por um indomável aristocrata cujo desejo era voltar aos tempos do feudalismo, "(...) para ter o prazer de enforcar numa árvore todo aquele que não andasse direito" (p. 97); enfrenta uma epidemia de varíola, confortando os doentes e sepultando os mortos; é preso e espancado por bandidos, seus colegas de cela; e finalmente morre de tifo a caminho de Madri, para onde estava sendo conduzido para ser julgado por seu comportamento heterodoxo, beirando à heresia**. Nazarín, o nome remete a Jesus Nazareno, emula o cristianismo primitivo, ou, em suas próprias palavras: "(...) à medida que avança o que os senhores entendem por cultura, e se propaga o chamado progresso, e aumenta a maquinaria, e se acumulam riquezas, maior é o número de pobres e mais negra é a pobreza, mais triste, mais displicente" (p. 26), causada pela propriedade, "(...) nome vão, inventado pelo egoísmo" (p. 21). O maior defeito do livro talvez seja o naturalismo que deforma a realidade "(...) desenhada para ser vista de longe e que se vê de perto" (p. 14).


* Também há um parentesco entre os personagens Nazarín e Tartarin, do romance Tartarin de Tarascondo francês Alphonse Daudet (1840-1897), publicado em 1872. O autor inclusive cita, à página 135: "Não há solenidade sem tarasca (...)", sendo tarasca "uma figura monstruosa que simboliza o mal em procissões religiosas, especialmente na cidade francesa de Tarascon". Assim, Nazarín é um referência a Jesus Nazareno, mas também a Tartarin de Tarascon.
** A cena final de Nazarín, que em seu delírio de moribundo enxerga uma cruz à sua espera, e a rejeita, lembra o mote do romance A ultima tentação de Cristo, do grego Nikos Kazantzákis (1883-1957).
*** As angústias de Nazarín lembram as do padre Donissan, do romance Sob o sol de Satã, do francês Georges Bernanos (1888-1948), publicado em 1926, e analisado neste espaço em postagem do dia 21/09/2105



Avaliação: BOM  

(Setembro, 2016)


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