Esaú e Jacó (1904)
Machado de Assis (1839-1908) - Brasil
Rio de Janeiro/Brasília: Civilização Brasileira/MEC, 1975, 284 páginas
O mais explicitamente político dos romances de Machado de Assis, consegue ser realista e alegórico ao mesmo tempo. É realista quando elege por tema a queda do Império e a instalação da República ("havia espanto, mas não havia propriamente susto", p. 190) - é alegórico quando desenha os caracteres dos irmãos gêmeos Pedro e Paulo, que desde o útero se batiam por ideias antagônicas. Paulo, que estuda direito em São Paulo, berço da oposição à decadente aristocracia, representa o espírito progressista; Pedro (tal como os dois imperadores) estuda medicina no Rio de Janeiro e encarna o conservadorismo. E ambos ambicionam a mesma Flora (o Brasil, talvez...), moça "inexplicável", como a define o Conselheiro Aires (p. 121), que aqui aparece pela primeira vez e ganhará um romance inteiro em 1908, Memorial de Aires, o derradeiro do autor (anunciado à p. 90). A relação dos irmãos com Flora não chega a compor uma história de amor - entre escolher um ou outro, ela definha e morre. Talvez aqui resida toda a ironia pessimista de Machado de Assis: lutam renhidamente monarquistas e republicados (conservadores e progressistas; e, agora, tucanos e petistas) pelo poder, apenas pelo poder. Há uma fábula maravilhosa incrustada no livro, a da troca da tabuleta da confeitaria do Custódio (antiga Confeitaria do Império), abarcando os capítulos XLIX, LXII e LXIII, que evidencia a índole interesseira, mesquinha e egoísta do brasileiro.
Avaliação: MUITO BOM
(Maio, 2016)
Entre aspas
"Tinha o coração disposto a aceitar tudo, não por inclinação à harmonia, senão por tédio à controvérsia." (p. 89)
"Há (...) virtudes feitas de acanho e timidez, e nem por isso menos lucrativas, moralmente falando." (p. 151)
"Há (...) virtudes feitas de acanho e timidez, e nem por isso menos lucrativas, moralmente falando." (p. 151)
"Não é a ocasião que faz o ladrão (...), o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: 'A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito." (p. 209)
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