quinta-feira, 23 de julho de 2020

Johnny vai à guerra (1939)
Dalton Trumbo (1905-1976) ESTADOS UNIDOS        
Tradução: José Geraldo Couto               
São Paulo: Biblioteca Azul,  2017, 231 páginas





Joe Bonham, um jovem atlético e saudável do interior do Colorado, tem cerca de 19 anos quando os Estados Unidos entram na I Guerra Mundial, em 1917. Após quatro meses de treinamento e onze meses no front na França, uma bomba o atinge, faltando menos de dois meses para o fim do conflito, e ele acorda numa cama de hospital, tornado "(...) um homem sem pernas nem braços nem orelhas nem olhos nem nariz nem boca mas que respira e come e está tão vivo quanto você e eu" (p. 90). É a partir desse lugar sem lugar, desse tempo sem tempo, que o narrador constrói um libelo radical contra todas as guerras. O protagonista relembra sua infância e adolescência, evoca o pai fracassado e a mãe amorosa, a namorada com quem ele provavelmente iria se casar, recorda episódios fundadores de sua passagem para a vida adulta, tudo isso sem qualquer perspectiva de romper com a sua solidão, a mais profunda solidão, que é a impossibilidade de comunicação. Johnny ocupa o momento presente, quando os dias são absolutamente iguais, sem nem mesmo ter certeza se vive ou se sonha. E passa então a "(...) falar pelos mortos porque era um deles" (p. 119). Livro tristíssimo e arrebatador, primoroso na construção de um discurso inteiramente despido de vírgulas - sem que isso cause qualquer tipo de ruído na compreensão das frases -, acaba, no entanto, nos levando a um curioso paradoxo. A defesa veemente do pacifismo é também a defesa intransigente do individualismo (v. Cap. X). Como alega à pág. 34, "(...) essa guerra não era sua", o individualismo exacerbado pode nos empurrar para o alheamento, para a a defesa da tese de que nenhum combate é válido, nos paralisando, mesmo se vivemos sob um regime autoritário. Esse perigo hermenêutico é tão claro que o livro, tendo sido lançado no ano do início da Segunda Guerra Mundial, acabou sendo adotado também pela... extrema-direita... Tanto que o Autor preferiu, ao esgotar a  primeira edição, não relançá-lo até a derrota do nazifascismo. E, depois, também impediu sua circulação durante a Guerra da Coreia, só retornando na época da Guerra do Vietnã - o próprio Autor conta isso no prefácio... 


Observação:

O Autor usa um sobrenome do pai, Bonham, para nomear o protagonista do romance e certamente evoca sua própria infância e adolescência no Colorado para ilustrar as memórias do personagem.



 Avaliação: BOM 

(Julho, 2020)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.