quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A meia-noite (1917) 
Ramón del Valle-Inclán (1866-1936) ESPANHA  
Tradução: Pedro Ventura    
Porto: Assírio & Alvim, 2018, 108 páginas




Relato lítero-jornalístico sobre a I Guerra Mundial, que impressiona pela descrição de alguns episódios traumáticos, como, por exemplo, a cena em que uma jovem francesa, violada por soldados alemães, encontra-se grávida e diz para o médico: "Doutor, eu não quero ter um filho dos bárbaros!... (...) Se não me liberta desta cadeia, mato-me!" (p. 61). Aliás, é este médico que traduz, com precisão, o que é a guerra: "É a barbárie atávica que se impõe" (p. 59). O Autor não esconde sua simpatia pelos aliados: "Para os soldados franceses, o sentimento da dignidade humana enraíza-se com o ódio às hierarquias", e, portanto, eles não compreendem "aqueles soldados chatos e brutais que cantam como selvagens, que suportam o chicote dos oficiais, que são escravos numa terra onde ainda existem castas e reis" (p. 75). É curioso que, apesar de se mostrar sensível aos absurdos da guerra - "Esse momento frio e cinzento, em que o soldado, ao cair das trevas da noite, vê à sua volta os companheiros mortos, as metralhadoras despedaçadas, a trincheira desmoronada, é o mais deprimente da guerra" (p. 80-81) -, o Autor ao mesmo tempo demonstra certo fascínio por ela: "A guerra possui uma arquitetura ideal, que apenas os olhos do iniciado podem alcançar, e assim está cheia de mistério telúrico e de luz" (p. 89). 



Avaliação: BOM

(Novembro, 2019)

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