sexta-feira, 19 de abril de 2019

Veranico de janeiro (1966)
Bernardo Élis (1915-1997BRASIL 
Rio de Janeiro/Brasília: José Olympio/MEC: 1976, 135 páginas







Reunião de seis contos, que agregam o que há de melhor e pior no Autor. Vamos começar pelo pior. O Autor consegue uma dicção própria para retratar os rincões do centro-oeste brasileiro (como se Guimarães Rosa tivesse avançado Goiás adentro e não em direção à Bahia), mas, muitas vezes nada tem a oferecer além da própria linguagem. É o caso do conto que dá título ao livro: não há enredo - ou melhor, há um fio de enredo, um doente quase terminal que é deixado na casa de uma mulher, interessada nos lucros que poderia auferir, no futuro próximo, com sua morte. A história vai e vem, enrola-se, estica-se, sem nenhuma necessidade, apenas para demonstrar o virtuosismo do Autor. O mesmo ocorre - de forma exponencial - com "Os fuxicos da fonte de Taquari", uma bobagem sem sentido. Quando, no entanto, o Autor consegue desencantar-se, ele é sublime: "A enxada" é, sem qualquer dúvida, uma obra-prima que tem que constar de qualquer antologia do que melhor produziu a ficção curta brasileira. O Autor possui um profundo olhar crítico em relação à realidade e o usa para descrever situações sociais absurdas, como a permanência das relações escravocratas na sociedade brasileira, perceptíveis até hoje. É o que faz no conto citado e em "Rosa" e, com mais vigor, em "Dona Sá Donana". Quanto a "O padre e um sujeitinho metido a rabequista", a história da paciência de um cura vencendo a teimosia de uma mula, essa já foi lida, com mais propriedade até, em "A mula do Papa", do francês Alphonse Daudet (1840-1897), -  está na "Cartas ao meu moinho", de 1886 - e em "Mansinho", de João Alphonsus (1901-1944), do livro "Eis a noite!", de 1943, presente no livro "Contos e novelas", já resenhado aqui em 05/02/2019.





Avaliação: BOM



(Abril, 2019)








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