domingo, 4 de junho de 2017

Dom Gesualdo (1889) 
Giovanni Verga (1840-1922) - ITÁLIA   
São Paulo: Global, 1983, 289 páginas
Tradução: Vera Mourão   





Romance trágico, situado no começo do século XIX e tendo como cenário a Sicília, descreve a ascensão e queda de dom Gesualdo Motta, um pedreiro que, com muito trabalho e tino comercial, enriquece, tornando-se a maior fortuna da região. Embora astuto, pouco a pouco é enredado pela nobreza decadente, que lhe empurra a mulher, Bianca, frágil membro da tradicionalíssima e falida família Trao, e lhe impõe negócios nem sempre favoráveis. Dom Gesualdo afasta-se de seus parentes - o pai, Nunzio; a irmã Speranza e seus inúmeros filhos; o irmão Santo - e daqueles que estiveram com ele na construção de sua fortuna, particularmente Diodata, uma empregada com quem mantinha uma relação de concubinato, da qual nasceram dois filhos, Nunzio e Gesualdo. Barões e marqueses que moram em palacetes caindo aos pedaços e não têm o que comer adulam dom Gesualdo por causa do dinheiro, ao mesmo tempo em que o desprezam pela origem social. Bianca gera Isabella (provavelmente filha de um primo, o barão Antonio Rubiera - v. pág. 148), que dom Gesualdo, aspirando conquistar um lugar entre a nobreza por meio dela, desde cedo instala nos melhores colégios de Palermo. Durante uma epidemia de cólera, em torno de 1837, dom Gesualdo recolhe familiares, seus e da mulher, empregados e moradores das aldeias próximas em Mangalavite. Lá, Isabella mantém um escandaloso affair com um outro nobre falido, La Gurna, e acaba tendo de aceitar casar-se com um duque, cujo nome "ocupava duas linhas" (pág. 220), Alvaro Filipo Maria Ferdinando Gargantas di Leyra, que aproveita seu dote para pagar dívidas que se acumulam e contratar outras. A morte do pai e depois de Bianca desencadeiam uma demanda jurídica contra dom Gesualdo, liderada pela irmã, Speranza; os nobres mostram-se cada vez mais cínicos, interessados em sua fortuna; a filha se isola em um casamento de fachada; os filhos ilegítimos, tidos com Diodata, aderem a uma rebelião popular, os carbonários, contra os proprietários de terra, particularmente contra ele (rebelião, aliás, liderada por membros da nobreza falida, interessada em manter bens e principalmente poder). Dom Gesualdo compreende então a solidão de habitar um entrelugar - não é mais um pedreiro nem um camponês, mas também não é um nobre; nem sua estirpe permanecerá, pois, envergonhada, a filha usa apenas o sobrenome Trao, da mãe. No final, padecendo de um câncer no estômago, é levado para o sofisticado palácio do duque em Palermo, onde, sob a desculpa de ser tratado por médicos mais qualificados, é mantido encarcerado para não fazer um testamento, o que deixa Isabella como herdeira única de seus bens. Tristíssima narrativa, que expõe a hipocrisia social, o cinismo familiar, a desolação política.
  

(Junho, 2017)



Avaliação: MUITO BOM  



Observações:

1) São impressionantes as descrições da decadência das casas e das pessoas neste romance. E os capítulos finais, que narram a amargura, a solidão e a dor de dom Gesualdo, mantido praticamente como prisioneiro no luxuoso palácio da filha, é comovente.
2) O Brasil surge no nome de um dos empregados de dom Gesualdo, Brasil Camaura (p. 259).



Entre aspas:


"Quando se comete uma burrice, é melhor nada dizer, para não alegrar os inimigos". (p. 173)




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